Baixei essa semana o app da nova aposta doSBT. O serviço de streaming gratuito+SBT.
Além de permitir acompanhar o sinal aberto do canal de TV, similar ao que acontece com a Globo com o Globoplay, o +SBT é uma verdadeira cápsula do tempo, permitindo reassistir alguns programas icônicos produzidos pelo canal criado por Silvio Santos.
Como um grande apreciador do formato Talk Show, fiquei entusiasmado com o fato que a plataforma conta com episódios do lendárioJô Onze e Meia, programa de entrevistas comandado pelo saudoso Jô Soares, exibido de agosto de 1988 a dezembro de 1999.
Dada a minha idade (31 anos) tenho muito mais lembranças da fase do programa de entrevistas do Jô na Rede Globo, exibido entre abril de 2000 a dezembro de 2016. No entanto, ao longo dos anos, acompanhei no Youtube diversos episódios da época do Jô Onze e Meia que detém o título de primeiro talk show do Brasil.
Assim como nos melhores anos do programa de entrevistas deDave Letterman, Late Show, o Jô Onze e Meia é recheado de momentos icônicos. Diversas personalidades ficaram frente a frente com Jô.
Inicialmente, meu objetivo era assistir novamente às entrevistas do Tim Maia no programa. Todas elas com a capacidade de deixar qualquer militante do politicamente correto de cabelo em pé, mas com uma dose abissal de sinceridade, sarcasmo e um estilo meio canastrão que era característico de Maia.
Para minha infelicidade, constatei que esses episódios ainda não estão disponíveis no catálogo do +SBT. Os conteúdos são adicionados semanalmente, e muita coisa ainda está ausente.
Até o momento da publicação desse artigo, 39 edições do Jô Onze e Meia estão disponíveis para serem assistidos, programas que passam pelos anos de 1996 a 1999.
Um papo sobre o futuro dos computadores
Em meio às opções, para minha surpresa, me deparei com um episódio que a data de exibição original foi 27 de novembro de 1995. O convidado: Bill Gates.
Através de uma conexão via satélite, com sua imagem projetada numa boa e velha TV de tubo, Jô bateu um papo de pouco menos de 10 minutos com o cofundador da Microsoft.
Além do Windows 95, naquele ano Gates estava promovendo seu primeiro livro, intitulado“A estrada do futuro” (The Road Ahead).
Jô o anunciou como o dono de um império da informática, e o livro, segundo Gates, apontava na direção de algumas predições do mercado da tecnologia. O magnata da Microsoft explicou que o livro falava“sobre como o aumento do poder dos computadores teria um impacto direto em diversos pontos da sociedade, como o trabalho, aprendizado, o lazer”.
“A ideia de que usamos o computador para achar as pessoas que estão vendendo algo, pessoas com quem temos interesses em comum. Podemos trabalhar juntos em videoconferências, trabalhar juntos em um mesmo documento. É um avanço incrível em comunicações que, em essência, tornará o mundo menor. Ela vai mudar o trabalho, os negócios de sucesso. Em geral eu predigo um quadro bem positivo.. Mas também falo sobre os desafios que ela irá trazer”, afirmou Gates.
É interessante relembrar que 1995, ano de exibição dessa entrevista, também foi o ano em que a internet comercial passou a operar no Brasil. Um passo importante para que o acesso a web pudesse escalar e atuar diretamente nas capacidades e avanços que Gates apontava, com mais pessoas tendo acesso a todo um novo conjunto de possibilidades.
Outro ponto curioso, considerando o contexto da época, e que, inclusive, é perguntado por Jô, era como Gates estava trabalhando para que as pessoas perdessem um certo medo ao lidar com o computador. Jô até usa os livros como um exemplo para reforçar a pergunta:
“Você sabe melhor do que ninguém que a nossa geração ainda tem problemas para enfrentar os computadores. Você tornou isso mais fácil para todos. Mas ainda assim, quase todos em nossa geração, na primeira vez à frente de um computador dizem: Argh! O que é isto?.. Não vou nem tocar, pode quebrar!
Você acredita que com o tempo, as novas gerações, todo mundo irá operar um computador da mesma forma que operamos um livro? É só abrir e ler.
Com um sorriso no rosto, Gates respondeu que acreditava que o computador teria o mesmo papel do telefone.
“Temos muito trabalho a fazer para torná-lo mais fácil. Atrair as pessoas para que trabalhem com ele. Os jovens gostam dele, mas temos que fazer com que os mais velhos também gostem, para que dê certo.O meio é achar aplicativos que sejam mais agradáveis. Seja para escrever, para jogos, aprender algo novo. Interligando computadores seremos mais eficazes para levar a você o assunto que lhe interessa”,afirmou o magnata.
Gates também menciona na entrevista que os computadores seriam transportados para o bolso. A ideia da minituarização do hardware que foi tão importante para o avanço do desenvolvimento do PC possibilitou também que a era dos smartphones surgissem, e mantendo essa necessidade de seguir buscando maneiras de tornar apps e dispositivos mais acessíveis e que conectem pessoas de gerações díspares.
Em seu segundo livro, lançado 4 anos depois dessa entrevista,“A Empresa na Velocidade do Pensamento (Business @ the Speed of Thought)”, Gates reforça essa ideia dos dispositivos móveis como um catalisador de negócios, indo muito além de uma ferramenta para o entretenimento.Temos um artigofalando justamente sobre alguns pontos mencionados por Gates neste segundo livro.
Voltando ao papo com Jô, a última pergunta foi sobre quantos computadores Gates utilizava em seu dia a dia.
Gates disse que a sua máquina principal era um portátil, um notebook, que permitia transportá-lo, além de permitir que ele fosse interligado com outros PCs no trabalho ou em casa. “O portátil cobre 90% daquilo que preciso”, afirmou.
Analisando sob todo o desenrolar da tecnologia de 1995 até agora, notebooks e até opções mais portáteis de “poder computacional na palma da mão”, como os smartphones, em conjunto com o avanço da web, tornaram possível pavimentar a tal estrada do futuro usada como título do livro de Gates.
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